"Tempo e Existência: Uma Análise Psicossocial das Narrativas Temporais na Contemporaneidade"
- Dr° Adilson Reichert
- 13 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jul.
A percepção do tempo é uma construção humana tão antiga quanto a própria consciência. Desde os mitos cíclicos das civilizações antigas até a aceleração frenética da era digital, o tempo não é apenas um marcador objetivo, mas uma narrativa que molda identidades, sistemas sociais e formas de estar no mundo. Neste artigo, exploraremos quatro concepções temporais fundamentais — tempo linear progressista, tempo sistêmico, tempo líquido contemporâneo e tempo pós-moderno — e como elas interagem com crenças limitantes, permissões sociais e a busca por significado existencial.

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O Tempo Linear Progressista: A Busca Infindável pelo "Avanço"
Conceituação:
O tempo linear progressista é herdeiro do Iluminismo e da Revolução Industrial. Nele, o tempo é uma linha reta que avança rumo a um futuro idealizado, pautado por noções como "desenvolvimento", "evolução" e "produtividade". A crença central é de que o progresso tecnológico, econômico e moral é inevitável e desejável.
Crenças Limitantes:
A tirania do "nunca suficiente": A ideia de que sempre se pode (e deve) fazer mais gera ansiedade crônica e burnout.
Desvalorização do presente: O futuro é visto como a única dimensão válida, invalidando experiências imediatas e práticas contemplativas.
Culpa pelo retrocesso: Qualquer pausa ou recuo é interpretada como fracasso pessoal ou coletivo.
Permissões e "Permissidades":
A sociedade permite (e até celebra) a hiperprodutividade, mas negligencia a saúde mental.
A "permissidade" (excesso de permissividade distorcida) se manifesta na glamorização do trabalho excessivo ("hustle culture"), onde o autocuidado é visto como fraqueza.

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O Tempo Sistêmico: A Máquina que Não Pode Parar
Conceituação:
O tempo sistêmico refere-se à temporalidade imposta por estruturas de poder e instituições (Estado, mercado, religião). É um tempo regulado, burocrático e muitas vezes alienante, que prioriza a manutenção do status quo. Exemplos incluem prazos corporativos, calendários escolares e ciclos eleitorais.
Crenças Limitantes:
Destino pré-determinado: A sensação de que o indivíduo é apenas uma engrenagem substituível no sistema.
Inércia existencial: A aceitação passiva de que "as coisas são como são", desencorajando mudanças radicais.
Medo da desconexão: A ideia de que sair do ritmo sistêmico leva à exclusão social.
Permissões e "Permissidades":
O sistema permite adaptações superficiais (ex.: home office), mas não questiona sua lógica central.
A "permissidade" surge na naturalização de desigualdades ("é assim mesmo"), onde a crítica estrutural é neutralizada.

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O Tempo Líquido Contemporâneo: Fragilidade e Efemeridade
Conceituação:
Inspirado na "modernidade líquida" de Zygmunt Bauman, esse tempo é fluido, volátil e desconexo. As relações, o trabalho e até as identidades são marcados pela provisoriedade. Redes sociais, economia de plataformas e a cultura do descartável exemplificam essa temporalidade.
Crenças Limitantes:
Medo do compromisso: Laços duradouros são evitados por parecerem arriscados.
Ansiedade da obsolescência: A necessidade constante de se atualizar para não "ficar para trás".
Narcisismo da novidade: O valor está no que é novo, não no que é significativo.
Permissões e "Permissidades":
A sociedade permite a experimentação de identidades múltiplas, mas cobra coerência.
A "permissidade" aparece no consumismo desenfreado, onde a liberdade de escolha mascara uma armadilha de insatisfação permanente.

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O Tempo Pós-Moderno: A Desconstrução das Grandes Narrativas
Conceituação:
O tempo pós-moderno rejeita a linearidade e as metas universais. É fragmentado, irônico e plural, como um mosaico de micro-narrativas. Aqui, o passado, presente e futuro coexistem em colagens (memes, remixes, cultura do revival).
Crenças Limitantes:
Crise de significado: A falta de um "propósito maior" pode levar ao niilismo.
Paralisia decisória: O excesso de opções e perspectivas gera indecisão crônica.
Solidão hiperconectada: A conexão virtual substitui vínculos profundos.
Permissões e "Permissidades":
Há permissão para questionar normas, mas pouco suporte para construir novas bases.
A "permissidade" se expressa no relativismo extremo, onde tudo é válido, mas nada importa.

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A Necessidade de Estar: Entre a Liberdade e o Vácuo
As temporalidades não são neutras: elas definem o que é permitido sentir, desejar e realizar. A crença limitante universal é a de que não há alternativas ao tempo imposto. Porém, a psicossocialidade contemporânea nos convida a:
1. Questionar narrativas temporais: Quem se beneficia do meu senso de urgência?
2. Criar micro-resistências: Práticas como o ócio criativo ou o slow living desafiam a tirania da produtividade.
3. Abraçar a temporalidade híbrida: Combinar planejamento (linear) com aceitação do fluxo (líquido).

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Conclusão: Para Além das Amarras do Tempo
Vivemos uma encruzilhada temporal: enquanto o progressista nos cobra metas, o líquido nos dissolve em ansiedade, o sistêmico nos engessa, e o pós-moderno nos deixa à deriva. A saída não está em eleger uma narrativa, mas em reconhecer sua artificialidade e ressignificá-las. Permita-se habitar o presente sem culpa, questionar sistemas sem medo e construir temporalidades que honrem sua humanidade — imperfeita, mas autêntica.
Para refletir: Qual tempo você está vivendo? E qual gostaria de habitar?
Se fez sentido para você, considere agendar um horário com o psicoterapeuta Adilson Reichert, de o passo rumo a resignificação de si mesmo!
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