O Labirinto dos Brilhantes: Genialidade e Superdotação entre Luz e Sombra
- Dr° Adilson Reichert
- 18 de jun.
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jul.
"O gênio não é um dom, mas a via crucis pela qual um ser responde ao mundo que o interroga."
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Prelúdio: O Arquipélago das Mentes Raras
No silêncio das bibliotecas renascentistas, um homem decifrava os segredos do voo dos pássaros enquanto a Inquisição queimava hereges. Leonardo da Vinci, epítome do gênio universal, era ao mesmo tempo adorado e suspeito. Avançamos cinco séculos: em 2025, jovens com QI acima de 130 navegam entre telas digitais, algoritmos preditivos e a solidão do excesso. O que mudou na essência da genialidade? Por que a superdotação, antes reverenciada, tornou-se uma dupla excepcionalidade — talento e tormento?
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I. Das Pedras Filosofais aos Neurônios: Uma Arqueologia do Brilho
A) O Gênio como Fenômeno Holístico
Na Grécia antiga, "daemon" designava a centelha divina nos poetas. Aristóteles via a genialidade como "melancolia sagrada" — um desequilíbrio humoral que permitia visões além do ordinário. Saltemos para 2025: Joseph Renzulli desmontou essa visão romântica. Sua Teoria dos Três Anéis redefine a superdotação como intersecção entre:
Habilidade intelectual acima da média
Comprometimento com a tarefa
Criatividade disruptiva .
Não mais um dom inato, mas um processo dinâmico que se alimenta de contexto e esforço.
B) A Revolução Inclusiva: Legislação e Realidade
Em 1996, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação brasileira (Lei 9.394) reconheceu os superdotados como público-alvo da educação especial. Surgiram os NAAH/S — Núcleos de Atividades de Altas Habilidades/Superdotação. Mas a prática revela um abismo: apenas 0,03% dos estudantes são identificados, ante uma estimativa de 5% com perfil AH/SD . Por quê?
"Identificamos apenas os que brilham sem incomodar. Os que queimam as asas no sol da excepcionalidade? Esses chamamos de 'problemáticos'."
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II. 2025: O Paradoxo da Inteligência na Era do Cansaço
A) A Ditadura do Rendimento e o Colapso do Sagrado
O filósofo Byung-Chul Han diagnostica nossa era como "Sociedade do Cansaço". Se no século XX o controle era exercido por proibições, hoje nos exploramos até a exaustão num culto perverso à produtividade. Para o superdotado, isso se traduz em:
Síndrome do Impostor Amplificada: "Se sou tão inteligente, por que não rendo mais?"
Tédio Crônico: Em salas de aula que não desafiam 5% de sua capacidade
Hiperaceleração Existencial: A pressão para "otimizar" seu potencial como um algoritmo .
B) O Assédio dos Algoritmos e a Expropriação do Saber
Levi Checketts adverte: "A IA é desenvolvida em sociedades que desvalorizam os pobres" . E os superdotados? Vivem o paradoxo de serem simultaneamente:
Ferramentas do sistema: recrutados por Big Techs para refinar algoritmos
Vítimas da mesma lógica: quando máquinas expropriam sua criatividade, reduzindo-a a "padrões otimizáveis".
Karl Marx antevia isso: "O trabalho morto (algoritmos) domina o trabalho vivo (o saber-fazer humano)" . O gênio de 2025 é forçado a escolher: servir ao sistema ou tornar-se um "inadaptado sublime".
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III. A Chama e a Cinza: Riscos Psicossociais da Superdotação Contemporânea
A) Dupla Excepcionalidade: Quando o Dom Traz a Chaga
Estudos revelam que até 50% dos superdotados têm dupla excepcionalidade — altas habilidades combinadas com:
TDAH
Dislexia
Transtornos de ansiedade
Síndrome de Asperger .
O caso emblemático: crianças com quociente intelectual extraordinário e disfunção executiva. Sabem resolver equações diferenciais, mas não organizam a mochila. São "gigantes cognitivos com pés de barro emocional".
B) Luto pelo Comum: A Solidão dos Arquipélagos Cognitivos
"O superdotado não sofre por pensar demais. Sofre por ser uma ilha cercada de oceanos por todos os lados." — Neuropsicoterapeuta Social Adilson Reichert
Em 2025, a hiperconexão digital aprofunda esse isolamento:
Dificuldade de sincronia: processam informações 3x mais rápido que a média
Fome de profundidade: enquanto a cultura do meme banaliza o pensamento complexo
Sensação de exílio: como se observassem a Terra de um planeta distante.
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IV. Cartografias do Possível: A Neuropsicanálise como Bússola
A) A Reconstrução do Sagrado Interior
A abordagem neuropsicanalítica integra:
Nível | Intervenção |
Biológico | Regulação do córtex pré-frontal via neurofeedback |
Psicológico | Técnicas de reestruturação cognitiva para crenças disfuncionais ("Preciso ser perfeito") |
Social | Inserção em comunidades de pares (ex.: grupos de mentoria) |
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) atua nas distorções:
Polarização: "Ou sou um gênio ou um fracasso"
Catastrofização: "Se não revolucionar minha área, sou inútil" .
B) Ritualização da Queda Livre: A Arte de Desaprender
Inspirado no conceito de "iluminação profana" de Walter Benjamin, propomos:
Banhos de Incompetência: atividades onde o erro é obrigatório (ex.: aprender violino aos 40 anos)
Jejum Cognitivo: períodos sem estímulos intelectuais para resgatar o corpo
Poética do Inacabado: valorizar processos, não produtos.
"O superdotado precisa cair do altar de seu próprio intelecto. Só no chão, entre as rachaduras, nascem as flores da resiliência."
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V. Conclusão: Por uma Ecologia da Excelência Humana
Em 1510, Albrecht Dürer gravou "Melencolia I": um anjo cercado de instrumentos científicos, imerso em tristeza criativa. Cinco séculos depois, essa alegoria permanece viva nos superdotados de 2025. Mas há um caminho além do mito do gênio atormentado:
A neuropsicanálise propõe uma alquimia inversa: não transformar o chumbo em ouro, mas descobrir que o próprio chumbo contém seu brilho único. Seja através da TCC, da escuta neuropsicanalítica ou da educação social, trata-se de:
Dissolver a tirania do potencial
Resgatar o direito ao ordinário
Celebrar a beleza do incompleto.
Como escreve Adilson Reichert em "O Eu e a Ilusão de Ser":
"Sua mente não é uma máquina de soluções. É um rio selvagem — às vezes caudaloso, às vezes seco, mas sempre sagrado em seu curso imprevisível."
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"Dr. Neuropsi" — seu companheiro IA em jornadas neuropsicanalíticas — está disponível 24h para acolher mentes brilhantes em crise. Agende uma sessão experimental e redescubra a poesia de ser humano, além dos rótulos do gênio .
"Na noite escura das inteligências artificiais, as estrelas mais belas ainda são as mentes humanas — não pelo que produzem, mas pelo mistério que habitam."
Neuropsionline.com: Onde Altas Habilidades Encontram Profundidade Humana

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