O Espelho Embaçado: Quando a Psicoterapia Perde seu Norte e Julga seu Viajante
- Dr° Adilson Reichert
- 3 de jul.
- 5 min de leitura
A busca por autoconhecimento e bem-estar psicológico é uma jornada íntima e corajosa. Ao cruzar a porta (virtual ou física) do consultório, o paciente traz consigo não apenas suas dores e conflitos, mas também a vulnerável expectativa de ser compreendido, aceito e guiado por um profissional que o ajude a navegar suas próprias águas interiores. O alicerce desta relação sagrada é a suspensão do julgamento moral. O psicoterapeuta, em teoria, é um espelho neutro, um facilitador, um co-explorador do universo psíquico do outro. Mas e quando esse espelho está embaçado? Quando, sutil ou explicitamente, o terapeuta insinua, impõe ou direciona o paciente segundo seus próprios parâmetros de "certo" e "errado", desviando-se do verdadeiro norte: o bem-estar autêntico e autodeterminado do indivíduo?

Esta é uma dissonância perigosa, frequentemente invisível até mesmo para o profissional envolvido. Não se trata, na maioria das vezes, de má-fé declarada, mas de complexas falhas na autorreflexão e na aplicação técnica. O resultado, porém, é uma distorção do processo terapêutico, onde o paciente pode sair não mais fortalecido em sua autonomia, mas sutilmente moldado ou até reprimido por valores alheios.
As Raízes do Desvio: Por que o Espelho Distorce?
1. A Sombra da Contratransferência: O conceito psicanalítico é fundamental aqui. A contratransferência são as reações emocionais do terapeuta diante do paciente, influenciadas por sua própria história, conflitos e valores não resolvidos. Um terapeuta que teve uma relação difícil com a autoridade pode reagir com excessiva simpatia ou hostilidade a um paciente submissivo ou dominador, interpretando seu comportamento não pela ótica do paciente, mas pela lente de sua própria experiência traumática. O "certo" ou "errado" do comportamento é filtrado pela emoção não examinada do profissional.
2. As Grades das Crenças Limitantes (do Terapeuta): Todo ser humano carrega crenças internalizadas sobre o mundo, a moralidade, os papéis sociais, o sucesso e o fracasso. Terapeutas não são imunes. Crenças enrijecidas sobre "como uma família deve ser", "o que é ser um homem/mulher de verdade", "o caminho único para o sucesso" ou "a obrigatoriedade da maternidade" podem infiltrar-se nas interpretações e nas sugestões. O que foge a esse modelo pessoal do terapeuta é tacitamente (ou explicitamente) classificado como "errado" ou "problemático", mesmo que funcione para o paciente em seu contexto.
3. O Abismo do Desconhecimento Técnico e Social: A psicoterapia exige profundo conhecimento teórico e uma sensibilidade aguçada para a diversidade humana. Desconhecer teorias que validam diferentes formas de existência (como estudos de gênero, culturas não-hegemônicas, neurodiversidade) ou não dominar técnicas para trabalhar com valores do paciente (como na ACT - Terapia de Aceitação e Compromisso) pode levar o terapeuta a patologizar o que é apenas diferente. O "desvio" da norma (social ou estatística) é equivocadamente tomado como "erro" a ser corrigido, não como diversidade a ser compreendida.
4. A Falta de Vontade (ou Recursos) para a Excelência: Infelizmente, há casos onde o desvio ocorre por pura negligência ou falta de engajamento. Manter-se atualizado, supervisionar casos, fazer terapia pessoal – tudo isso demanda tempo, energia e investimento. Alguns profissionais, por exaustão, cinismo ou comodismo, podem cair no piloto automático, aplicando fórmulas prontas e julgamentos superficiais, sem a devida imersão na singularidade do paciente. O serviço deixa de ser de qualidade porque falta a vontade de mergulhar na complexidade.

As Consequências: O Bem-Estar Perdido no Caminho
Quando o julgamento pessoal do terapeuta se sobrepõe à escuta genuína, o paciente sofre:
Invalidação da Experiência: Sua vivência é negada ou distorcida para caber no molde do terapeuta.
Dependência e Submissão: Aprende a buscar aprovação externa (do terapeuta) em vez de desenvolver seu próprio farol interno.
Aumento da Culpa e Ansiedade: Comportamentos naturais ou escolhas válidas são sentidos como "errados", gerando sofrimento desnecessário.
Abandono Precoce da Terapia: A sensação de não ser verdadeiramente ouvido ou aceito leva à desistência, muitas vezes reforçando crenças de inadequação.
Reforço de Opressões Sociais: Valores preconceituosos ou limitantes da sociedade são inadvertidamente reforçados pelo "aval" do profissional.

Reencontrando o Norte: O Compromisso com o Espelho Limpo
A verdadeira psicoterapia, em qualquer abordagem (Neuropsicanálise, TCC, Educação Social), floresce na curiosidade radical pelo outro, na suspensão ativa do julgamento e no compromisso inabalável com o bem-estar definido pelo próprio paciente. Isso exige:
Autovigilância Constante: O terapeuta deve estar sempre atento aos seus próprios vieses, reações emocionais e pontos cegos. A terapia pessoal e a supervisão clínica não são luxos, são imperativos éticos.
Humildade Epistemológica: Reconhecer que seu conhecimento e sua visão de mundo são limitados e que o paciente é o maior especialista em sua própria vida.
Foco nos Valores do Paciente: Ajudar o paciente a clarificar seus valores fundamentais (não os do terapeuta) e a agir de forma alinhada a eles, mesmo diante do sofrimento inevitável.
Formação Contínua e Crítica: Buscar constantemente conhecimento que amplie a compreensão da diversidade humana e desafie crenças limitantes internalizadas, inclusive as da própria profissão.

Na Neuropsi Online: Um Compromisso com o Espelho Fiel
Aqui no Neuropsi Online, compreendemos a profundidade e a delicadeza desse desafio. Com a abordagem biopsicossocial do Neuropsicoterapeuta Social Adilson Reichert, e o rigor técnico da Neuropsicanálise (integrando o inconsciente e o neurobiológico), a clareza e a ação da Terapia Cognitivo-Comportamental e a contextualização crítica da Educação Social. Esta integração visa justamente evitar as armadilhas do julgamento moral reducionista.
Nosso compromisso é oferecer um espaço seguro onde você, paciente, seja verdadeiramente visto e ouvido em sua singularidade. Trabalhamos para ser espelhos limpos, refletindo não nossas expectativas ou moralidades, mas sua complexidade, seus valores e seu potencial único de crescimento e bem-estar. Acreditamos que a terapia só cumpre sua missão quando você sai mais forte, mais autêntico e mais dono da sua própria bússola interior.
A jornada da saúde mental merece um guia que caminhe ao seu lado, não um juiz que aponta o caminho dele. Escolha quem te ajuda a encontrar o seu norte.
Referências:
1. Freud, S. (1912). Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. (Obras Completas, Vol. XII). Imago.
2. Rogers, C. R. (1951). Terapia Centrada no Cliente. Martins Fontes. (Ênfase na Aceitação Positiva Incondicional).
3. Hayes, S. C., Strosahl, K. D., & Wilson, K. G. (2012). Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT): O processo e a prática da mudança consciente. Artmed. (Trabalho com Valores Pessoais).
4. Kirmayer, L. J. (2012). Cultural competence and evidence-based practice in mental health: Epistemic communities and the politics of pluralism. Social Science & Medicine, 75(2), 249-256. (Importância da competência cultural).
5. Gabbard, G. O. (Ed.). (2014). Psicoterapias Psicodinâmicas de Longa Duração: Bases e Técnicas. Artmed. (Capítulos sobre Contratransferência e Manejo).
6. Brown, L. S. (2008). Cultural Competence in Trauma Therapy: Beyond the Flashback. American Psychological Association. (Relevante para evitar vieses em contextos diversos).
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