"A Existência Humana e a Construção Psicossocial da Realidade: Uma Dança Entre o Ser e o Não Ser"
- Dr° Adilson Reichert
- 18 de fev.
- 4 min de leitura
Atualizado: 2 de jul.

Introdução
O que significa existir como humano? Há séculos, filósofos, cientistas e artistas debatem essa questão, muitas vezes chegando a um ponto em comum: nossa existência não é apenas um fato biológico, mas um tecido socialmente construído, moldado pela mente, pela sociedade e pela interação entre narrativas individuais e coletivas. Este artigo explora como a realidade não é uma verdade objetiva, mas uma construção psicossocial definida por estruturas mentais, subjetividades sócio-críticas e a dialética do ser e do não ser.
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1. A Realidade como Construção Mental: O Prisma da Mente
Desde o despertar da consciência, nossa mente filtra, interpreta e organiza dados sensoriais em uma narrativa coerente. Filósofos como Immanuel Kant propuseram que jamais percebemos o mundo noumenal (a realidade como ela é), apenas o fenomenal (a realidade como nossa mente a constrói). A neurociência moderna confirma: nosso cérebro prioriza padrões, descarta informações irrelevantes e até "preenche lacunas" para criar continuidade.
Esse andaime mental não é neutro. Ele é influenciado por linguagem, cultura e experiências pessoais. Por exemplo, as múltiplas palavras dos Inuit para "neve" ou o conceito japonês de wabi-sabi (beleza na imperfeição) revelam como a cognição molda a percepção. A realidade, portanto, é uma alucinação colaborativa, refinada pela necessidade da mente de impor ordem ao caos.

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2. Subjetividade Sócio-Crítica: A Lente Coletiva
Se as mentes individuais moldam a realidade, os grupos sociais amplificam esse processo. O sociólogo Pierre Bourdieu cunhou o termo habitus para descrever como as sociedades imprimem normas, valores e comportamentos nos indivíduos. Essas estruturas são introjetadas—absorvidas inconscientemente—por meio da família, educação, mídia e instituições.
Pense nos papéis de gênero: uma criança aprende o que significa "ser homem" ou "agir como mulher" não pela biologia, mas por repetidos sinais sociais. Essas construções são reforçadas por estruturas de poder. A teoria poder/saber de Michel Foucault argumenta que grupos dominantes (como elites políticas ou corporações) definem o que é "verdade" ou "normal", marginalizando realidades alternativas. Por exemplo, histórias coloniais apagaram cosmologias indígenas, substituindo-as por narrativas eurocêntricas.
A realidade é, assim, um campo de batalha ideológico, onde grupos marginalizados resistem a identidades impostas para reclamar suas próprias narrativas (como os movimentos LGBTQ+ e Black Lives Matter).

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3. A Dialética do Ser e do Não Ser
A questão existencial— ser ou não ser —vai além de Shakespeare. O filósofo Jean-Paul Sartre defendeu que a existência precede a essência: primeiro existimos, depois nos definimos por escolhas. Porém, essas escolhas são limitadas por estruturas sócio-críticas.
O ser é concedido a quem se alinha a normas sociais (como a heteronormatividade ou o capitalismo), enquanto o não ser é imposto ao "outro"—pobres, minorias raciais ou dissidentes. Simone de Beauvoir expandiu isso, mostrando como as mulheres foram historicamente relegadas ao Segundo Sexo, suas identidades definidas em relação aos homens.
O não ser não é aniquilação, mas apagamento: uma recusa dos grupos dominantes em validar certas experiências. Por exemplo, o estigma em torno da saúde mental frequentemente silencia quem sofre, tornando sua dor invisível.
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4. Construção Psicossocial: O Circuito de Retroalimentação
A interação entre psique e sociedade cria um ciclo contínuo. O psicólogo Lev Vygotsky destacou que o desenvolvimento cognitivo está enraizado na interação social. Já a teoria da identidade social (Henri Tajfel) explica como indivíduos derivam autoestima de sua pertença a grupos, perpetuando dinâmicas de "nós vs. eles".
Esse ciclo é evidente em questões sistêmicas como o racismo. Preconceitos introjetados durante a socialização (como viés implícito) moldam comportamentos, que reforçam estruturas sociais (como políticas discriminatórias), aprofundando ainda mais esses preconceitos. Romper o ciclo exige consciência crítica—conceito ligado por Paulo Freire à educação—, em que indivíduos questionam e desmontam estruturas herdadas.

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5. Implicações: Reivindicando Agência em um Mundo Construído
Se a realidade é construída, podemos remodelá-la? Sim—mas apenas coletivamente. Movimentos como MeToo e o ativismo climático mostram como narrativas transformadas alteram prioridades sociais. No plano individual, práticas de mindfulness e terapia ajudam as pessoas a reconhecer crenças introjetadas (como "não sou bom o suficiente") e reescrever suas histórias.
Ainda há desafios:
Injustiça epistêmica: De quem é o conhecimento que importa?
Realidades digitais: Algoritmos agora filtram percepções, criando bolhas ideológicas.
Crises globais: As mudanças climáticas exigem uma realidade unificada, mas o nacionalismo persiste.
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Conclusão: Tecendo Novas Realidades
A existência humana é uma dança entre as criações da mente e as imposições da sociedade. A realidade não é fixa nem ilusória—é um artefato psicossocial, frágil mas maleável. Ao abraçar a consciência sócio-crítica, podemos desafiar construções opressoras, amplificar vozes marginalizadas e forjar narrativas inclusivas. Como escreveu Sartre, "A liberdade é o que você faz com o que fizeram de você". Ao compreender os fios que tecem nossa realidade, ganhamos o poder de retecê-los.

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Chamado à Ação
Questione as histórias que herdou. Ouça aqueles cujas realidades diferem da sua. E lembre-se: no espaço entre o ser e o não ser, reside o potencial para a transformação.
Se fez sentido para você, considere agendar um horário com o psicoterapeuta Adilson Reichert, de o passo rumo a resignificação de si mesmo!
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